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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Morreu um guineense cujo combate de sempre foi o desenvolvimento da terra que o viu nascer

Carlos Schawrz Silva "Pepito", um guineense cujo combate
de sempre foi o desenvolvimento da terra que o viu nascer
Pepito morreu!

Quando lemos este artigo pequeno, mas enorme pela sua profundidade resolvemos adoptá-lo, publicando-o neste blog de combate democrático.

 Com efeito, a nossa camarada e ex-Ministra da Economia, Helena Nosolini Embaló, fez uma lúcida e realística homenagem ao nosso velho amigo e camarada Carlos Silva, mais conhecido pelos guineenses por Pepito e resolvemos publicá-lo porque ela foi na verdade extraordinária:

 Um combate permanente, um exemplo de vida!

Para mim, Pepito simbolizou sempre um exemplo. Um exemplo de inteligência, de perseverança e de competência. Lembro-me, naquela época no início dos anos oitenta, quando me encontrava em Lisboa a estudar, o quanto me sentia orgulhosa de estar ao lado «deles», do Pepito e da Belocas, os ícones da minha fase pré-adulta, nas suas curtas passagens em Lisboa, em missão de serviço. Lembro-me como me senti revoltada quanto ambos deixaram o DEPA (o Estado) e admirei a coragem com que assumidamente criaram a ONG «AD» e das lutas que travaram contra as práticas do poder vigente muito hostis à emergência da sociedade civil. Lembro-me (da última vez que o vi com vida), da forma despretensiosa e audaciosa como concebeu a minha «saída» do país logo após o golpe de Estado de 2012.

Mesmo quando o passar dos anos foi embaciando o fervor revolucionário do pós-independência, Pepito em nenhum momento se converteu à logica do liberalismo económico ou se rendeu à fidelização perversa da político-partidária. O seu combate sempre foi o desenvolvimento da terra que o viu nascer. A sua ambição foi sempre fazer dos «camponeses» e das comunidades rurais, os propulsores do progresso e da dinâmica económica e social.

Mesmo que se pudesse discordar por vezes de aspectos centrais das suas orientações ideológicas, todos lhe reconhecemos a sua capacidade de emergir nos contextos mais complexos e precários, e lá quando mais ninguém esperava, ele reaparecia com ideias e projectos arrojados para implementar. Nos últimos anos da sua vida surpreendeu-nos com a sua faceta de um homem preocupado com as raízes históricas e a cultura do seu povo, disso são testemunhos, entre outros, as iniciativas e obras (Museu e Simpósio de Guiledge, e recentemente o Mausoléu de Cacheu) que ajudou a erguer para resgatá-las.

Curiosamente, este seu inconformismo, este seu combate permanente fez realçar a grandeza de sua figura e transformá-lo num exemplo de vida e de esperança!

Obrigada Pepito!

Que a terra lhe seja leve. As nossas mais sentidas condolências a família e aos seus companheiros da AD.

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