Tradutor

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Entrevista de Braima Camará à RTP África

Porque razão o Projecto que lidera não participou na plataforma “Aliança para a Coesão e Unidade do PAIGC”?

Em primeiro lugar porque não fui convidado. Em segundo lugar porque é uma plataforma sectária que não visa nem a coesão nem a unidade do partido. Basta olhar para o juramento de fidelidade que os seus membros fazem. Não se referem aos interesses da Guiné-Bissau, não se referem aos interesses do PAIGC. Referem-se apenas à defesa dos interesses da própria Aliança e dos seus membros.
Porém, a razão fundamental da nossa posição reside no facto de sermos contrários à solução que a Aliança preconiza para a liderança do Partido. A solução da Aliança significa introduzir a BICEFALIA no interior do Partido. Teremos dois líderes eleitos em Congresso, um chamado Presidente, que diz querer ficar no Partido, e outro chamado Secretário Nacional, que irá chefiar o Governo.
Pergunto:
Quem passará a ter mais poder real na Guiné-Bissau? O Presidente do Partido, dito Líder, ou o Secretário Nacional? Não é o Chefe do Governo quem detém as rédeas do poder no nosso modelo constitucional?
Para a nossa candidatura não há nenhuma razão para alterar o actual modelo de organização e funcionamento do Partido, que já consagra a referida “separação de poderes”.
No nosso modelo actual o Presidente do Partido é o líder do Partido, cabeça de lista e Primeiro-Ministro em caso de vitória eleitoral. É um modelo que não representa nenhuma concentração de poderes, tanto mais que, nos termos da chamada responsabilidade partidária definida no artigo 16.º dos Estatutos, o Governo do PAIGC responde perante o Comité Central pelo cumprimento do seu programa e todos os seus membros se comprometem a respeitar as orientações políticas definidas pelos seus órgãos nacionais.
Por outro lado, existem órgãos deliberativos, o Congresso e o Comité Central, órgãos executivos, o Presidente e o Secretariado Nacional, e órgãos jurisdicionais, o Conselho Nacional de Jurisdição. São estruturas que se reflectem até ao nível das bases, pelo que não é justo querer imputar as responsabilidades pelo que se passou no passado a um só homem, Carlos Gomes Júnior, ainda por cima nas suas costas. Se algo correu mal, foi porque os demais dirigentes do Partido se demitiram das suas responsabilidades, talvez porque nisso tinham interesse pessoal.
Estas são, em síntese, as razões de coerência que levaram o nosso projecto a manter a sua posição inicial. Defendemos os estatutos aprovados no Congresso de Gabú, que têm apenas 5 anos de existência.
Contudo, admitimos que os estatutos de Gabú contêm deficiências ou insuficiências, que importa corrigir. Por isso defendemos apenas uma revisão pontual, para resolver esses problemas, deixando uma revisão de maior fôlego para um momento posterior.
Quais os contornos dessa revisão pontual?
A revisão pontual que o nosso projecto defende visa sobretudo clarificar o modo pelo qual são escolhidos os Candidatos a apoiar pelo Partido na corrida às eleições presidenciais e na escolha do Presidente da ANP, assuntos que estiveram na origem dos principais conflitos internos; dar maior dimensão e coerência aos princípios que caracterizam a democraticidade interna do Partido; facilitar o normal funcionamento dos órgãos; democratizar o processo de eleição do Secretário Nacional, para lhe conferir maior legitimidade e força; melhorar as condições de exercício das funções de Secretário Nacional, aproximando o seu estatuto ao do Primeiro-Ministro; autonomizar e reforçar as competências do Secretariado Nacional e do próprio Secretário Nacional; consagrar e clarificar a autonomia dos dirigentes na convocação extraordinária do Comité Central; introduzir a obrigatoriedade do princípio do contraditório nas deliberações do Conselho Nacional de Jurisdição; e permitir a convocação de um Congresso Extraordinário, a título excepcional, para uma revisão mais profunda dos estatutos. Tudo o mais decorre das necessárias adequações que resultam das alterações propostas.
Finalmente, visando uma maior presença e participação dos veteranos na vida do Partido que criaram, propomos ainda na presente a transformação do Conselho Consultivo num novo Conselho dos Combatentes da Liberdade da Pátria, mantendo no essencial as atribuições que os actuais estatutos lhe conferem. Trata-se de conferir-lhe maior dignidade com a expressa referência à qualidade dos seus Membros.
Que ambições tem para o PAIGC e para a Guiné-Bissau?
Tenho muito amor pelo meu país e pelo meu partido, o PAIGC. Neste projecto tive o enorme prazer e a honra de ter sido convidado para o encabeçar. Não me moveram interesses ou ambições pessoais, e para meu espanto os militantes do partido, dirigentes, deputados, quadros, jovens e mulheres, combatentes, todos aderiram em peso ao projecto depois de saberem que eu o liderava. Qualquer um sentir-se-ia lisonjeado. Porém, encaro esta situação com muita humildade e sentido de responsabilidade. Carregar sob os nossos ombros a responsabilidade pelo futuro da Guiné-Bissau não é tarefa fácil, mas tal é resultado da grandeza do PAIGC no espectro político nacional.
Os meus pais são Combatentes da Liberdade da Pátria, antigos guerrilheiros do PAIGC. Cresci num ambiente completamente dominado pela dureza da luta e das condições sociais prevalecentes à época, bem como pelos princípios e pelos ideais do Partido para a independência do nosso país, no qual se pretendia criar uma nação com paz, estabilidade, prosperidade e bem-estar para todos. Temos de reconhecer que nesta dimensão o PAIGC falhou no cumprimento dos seus objectivos, não obstante tenha alcançado importantes conquistas em vários sectores da nossa vida.
Por isso, quero para o PAIGC uma espécie de refundação, um partido que volta a procurar nas suas bases populares o essencial da sua vitalidade política. Um PAIGC que se volte a comprometer com o povo, que não se afaste nem se esqueça do povo. Um partido que tenha nesse compromisso o essencial da sua luta, que terá de ser implementado por quadros competentes de que o partido dispõe. Um Partido de princípios e de causas.
Quero um PAIGC que respeite os direitos dos seus militantes, que faça deles actores e beneficiários da sua acção política e não meros joguetes nas mãos dos dirigentes.
Quero um Partido reconciliado consigo mesmo, capaz de aceitar as diferenças e de conferir a todos e a cada um dos seus militantes oportunidades idênticas para se afirmarem no Partido, a partir do mérito, do trabalho e da dedicação.
Quero um Partido moderno, plural, que privilegie o debate de ideias, o debate político sobre a mesa, sem cartas escondidas. Um partido em que a verdade e a transparência sejam vectores e valores incontornáveis da sua acção.
Quero um Secretariado forte e autónomo do Presidente do partido, que se ocupe com competência e profissionalismo dos problemas do Partido e dos seus militantes. Por isso aos nossos Camaradas que se dediquem que se dediquem em regime de quase exclusividade à vida partidária quero assegurar as melhores condições de trabalho.
 
Quero um Partido que se afirme na arena internacional sem complexos, porque possui conhecimento e experiência que deve transformar em causas a promover e defender. Um Partido republicano, democrata, defensor de estado de direito social em que as liberdades e o respeito pelos direitos humanos sejam confirmados permanentemente, defensor de uma justiça independente que combata a impunidade, as ilegalidades e o crime organizado. Em suma, um Partido que assuma a parceria que se lhe reclama no plano regional e internacional.
 
Conseguindo refundar o PAIGC em torno destes valores, estaremos a contribuir para a realização do programa maior de Cabral e de todos quantos quiseram e pensaram uma Guiné-Bissau próspera e de bem-estar para todos os seus filhos.
Para a Guiné-Bissau não me limito a proclamar grandes ideais e princípios.
Como é do conhecimento de todos fui e ainda sou Presidente da Câmara de Comércio, Indústria, Agricultura e Serviços da Guiné-Bissau.
Nesta qualidade participei de forma relevante no diálogo social tripartido com o Governo e os sindicatos. Conheço os problemas existentes e, na maior parte das vezes, contribuí pessoalmente na solução dos mesmos problemas. Conto manter esse diálogo como pilar essencial da governação do PAIGC.
Nessa qualidade propus a criação de um Conselho Económico e Social para proporcionar ao Governo um espaço privilegiado para os consensos necessários em torno dos grandes eixos de desenvolvimento económico e social do país.
Ainda nessa qualidade criei o FUNPI – Fundo para o Apoio ao Fomento Industrial, provando ser possível criar poupança interna e não depender exclusivamente do exterior. Nunca a Guiné-Bissau tinha conseguido criar um fundo com mais de 30 milhões de dólares americanos num só ano, para apoiar o pequeno e médio agro negócio.
Tenho uma vasta experiência comercial, especialmente na área do caju, e disponho de crédito e relações privilegiadas com todos os sectores empresariais nacionais e sub-regionais. Com essa experiência contribuímos decisivamente para que o país atingisse o ponto de conclusão da iniciativa HIPC, colocando a Guiné-Bissau na posição de um dos países menos endividados do mundo.
Com credibilidade podemos negociar novos e maiores créditos para resolver os problemas energéticos, infra-estruturais e outros com que o país se confronta.
O nosso Projecto acredita nas potencialidades da Guiné-Bissau, e acredita poder atingir metas ambiciosas no espaço de uma legislatura, apostando seriamente na educação e formação dos jovens e investindo fortemente nos sectores energético, agrícola, agro-industrial, mineiro, turismo e outros, em que o país apresenta alto potencial.
Teremos tempo para falar do nosso programa para a governação do país, que não se compadece com o espaço deste direito de resposta. Estou à vossa inteira disposição para o efeito.
 

Sem comentários:

Enviar um comentário